Conto : Amor de Circo

Isabella Montenegro desceu do carro alugado e olhou ao redor. O circo estava montado em um campo aberto, com tendas coloridas e luzes cintilantes. O cheiro de pipoca e algodão-doce pairava no ar, e Isabella sentiu uma mistura de excitação e nostalgia. A fama e o sucesso a haviam afastado desse tipo de magia, mas ali, sob a lona do circo, ela se sentia viva novamente.

Seu assistente, Daniel, correu para alcançá-la. 

— Isabella, você está incrível! — Exclamou ele, ajustando a gola do casaco dela. — O diretor está esperando por você.

Isabella assentiu e seguiu Daniel até o centro do circo. O diretor, um homem de cabelos grisalhos chamado Rodrigo, estava cercado por assistentes e técnicos. Ele sorriu quando viu Isabella.

— Isabella Montenegro, bem-vinda! — exclamou um intenso diretor. — Você será a estrela deste filme. Sua personagem é uma trapezista corajosa que enfrenta seus medos e descobre o verdadeiro significado do amor.

Isabella assentiu, mas seus pensamentos estavam em outro lugar. Ela olhou para os figurantes que se preparavam para entrar em cena. Entre eles, um palhaço chamou sua atenção. Ele estava vestido com roupas coloridas e um chapéu engraçado. Seus olhos bem escuros eram profundos e melancólicos.

— Quem é aquele? — Perguntou Isabella a Daniel, num tom sussurrante, apontando para o palhaço.

Daniel deu de ombros. 

— Ah, ele é apenas um figurante. Chama-se Augusto, mas todos o chamam de Gus. Ele não fala muito, mas é um bom rapaz.

Isabella não conseguia desviar os olhos de Gus. Ele parecia solitário e misterioso. Quando seus olhares se cruzaram, algo se acendeu dentro dela. Era uma sensação estranha, como se o circo tivesse lhe lançado um feitiço.

Naquela noite quente de verão, Isabella Montenegro e o palhaço solitário se encontraram sob a lona do circo. Ela, a estrela brilhante, e ele, o homem invisível. O que eles não sabiam era que aquela semana de gravações mudaria suas vidas para sempre.

Nos dias que se seguiram, Isabella e Gus mergulharam em um romance intenso e inesperado. As gravações continuavam, mas o circo agora era apenas o pano de fundo para a história que se desenrolava entre eles.

Isabella descobriu que Gus não era apenas um palhaço engraçado. Ele tinha uma alma sensível e uma mente criativa. À noite, quando as luzes do set se apagavam, eles se encontravam secretamente sob a lona do circo. O cheiro de feno e terra misturava-se ao perfume de Isabella, criando um cenário mágico.

Gus a fazia rir com suas piadas improvisadas e histórias malucas. Ele a ensinou a andar na corda bamba, segurando-a com mãos firmes enquanto ela equilibrava-se a metros de altura. Isabella, por sua vez, compartilhou seus medos e sonhos com ele. Ela revelou como a fama a havia isolado, como os holofotes escondiam sua solidão.

Uma noite, sob a lua cheia, eles se sentaram lado a lado em um banco de madeira. Isabella olhou para o céu estrelado e suspirou.

— Às vezes, sinto que sou apenas uma personagem em um filme —  disse ela. — As pessoas me veem na tela, mas não conhecem a verdadeira Isa.

Gus acariciou sua mão.

— Eu vejo você, como minha Isa, mais que uma musa. Não a atriz famosa, mas a mulher por trás dos holofotes. Seu sorriso, suas lágrimas, sua vulnerabilidade, é como se eu e você, em tão pouco tempo, tivéssemos nos conectado profundamente.

Eles se beijaram naquela noite, com a lua como testemunha. Foi um beijo apaixonado e desesperado, como se quisessem absorver um ao outro. Isabella sentiu-se viva de uma maneira que nunca havia experimentado antes.

Sentados diante de uma pequena fogueira que haviam feito, no meio de um jardim envolto por grandiosas árvores que ficava nos fundos do set de gravação, nem perceberam o frio que não tocava seus corpos que iam ficando peça, por peça, nus.

Ambos se enxergaram tão atraentes que a resposta sensorial de ambos era visual.

Ali, aquele toque, aquela pegada, aquele contato, de ritmo intenso e ao mesmo tempo sereno, transformaram as bocas sedentas pelo corpo um do outro numa demonstração de amor incomparável e digna de admiração, facilmente confundida como uma obra-prima.

Mas o tempo era implacável. As gravações chegaram ao fim, e o circo seria desmontado em breve. Isabella e Gus sabiam que aquele amor intenso tinha prazo de validade. Eles se prometeram lembrar um ao outro, mesmo quando estivessem separados.

Na última noite, Isabella olhou para Gus com lágrimas nos olhos. 

— Eu te amo, Gus. Não importa o que aconteça.

Ele a abraçou com força. 

— Eu também te amo, Isa. Pra sempre.

Quando a lona do circo se ergueu pela última vez, Isabella viu Gus acenando. Ela sorriu, sabendo que aquele amor, embora breve, seria eternamente seu.

Ambos sabiam que mundos tão diferentes dentro de uma mesma arte, jamais poderiam permanecer ligados.

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