Esquecida
CAPÍTULO 1
Abriu os olhos. Algo calmante, úmido e maravilhoso caía com gotículas etéreas em sua face. Fitou a copa das árvores, e logo acima o azul profundo do término da noite dissipando-se no colorido da luz do dia , havia 3 luas ou planetas um ao lado do outro, além de pequenas estrelas que aos poucos iam sumindo. Sentiu-se estranha, entorpecida, como se tivesse dormido um longo período de tempo. Havia dormido tanto assim? E porque estaria ali, naquele local? Baixando o olhar viu que estava em uma pequena clareira em uma floresta! Será que havia ido acampar e sofrido algum acidente?
Olhou ao redor, estava em meio a uns arbustos multicoloridos, com flores desconhecidas, pelo menos se pareciam flores, não tinha certeza.
Nada parecia certo, pensou alarmada. Tentou sentar-se e ficou aliviada por conseguir sem problemas. Mas estava um pouco dolorida, apoiou com as mãos no chão e empurrou para ficar de pé. O cheiro daquele lugar, era maravilhoso, e a terra aos seus pés era colorida, de um verde e roxo mesclados. Alguns sussurros chegaram aos seus ouvidos, procurou de onde vinham e viu algumas incríveis, vivas e encantadoras flores, que se pareciam a copos de leite mas com faces e braços e elas dançavam abaixo de uma árvores que soltava as gotículas refrescantes de água nelas. Não se lembrava de um dia ter visto algo assim. Girando, tentou visualizar algo fora a natureza exuberante com árvores de diferentes formatos e texturas. Algumas tão altas e largas que pareciam rochas, outras tão elegantes e suaves que pareciam que suas folhas eram de algodão . A única coisa que se lembrava ter achado natural eram as estrelas. Andou um pouco tentando achar algo familiar, sentiu muita sede e fome. Olhou a si mesma e viu que estava de tênis, jeans e uma jaqueta por cima de uma blusa e camiseta. Sentiu calor e retirou a jaqueta pesada, estava com alguns itens dentro da jaqueta, um jogo de canivete com outras ferramentas multiuso, algumas barras de cereais e água, todas em compartimentos especiais para isso. Tirou a jaqueta e amarrou na cintura. Tomou a água e comeu uma das barras de cereais, tinha que economizar, pensou. Suas mãos estavam um pouco raladas. Precisava descobrir onde estava e porquê estava lá.
E quem era? Não fazia a mínima ideia, pensou em pânico.
CAPÍTULO 2
Andando pela floresta, assustava-se quando ouvia um barulho aqui ou ali causados por pequenos animais, voadores ou rastejante dos quais se afastava rapidamente pois não sabia se a atacariam. Animais esses que eram totalmente desconhecidos pra ela. Alguns de aparência fofa, como esse pequeno, parecido com um axolotl* mas com pêlos amarelos, olhos grandes e caídos como de um cãozinho pidão e as "cristas" e patas cor de rosa, soltava um gemido fino acompanhado de um cricrilar, outros davam medo só de olhar, como um que desceu diretamente em cima de sua cabeça e se parecia um caranguejo misturado com escorpião, com garras e pinças que aparentavam cortar como faca. Outros vieram em revoada, um grupo zumbizento de mais de dez animais com asas de borboleta multicoloridas e com algumas penas e no que se supunha ser as cabeças com bicos finos encurvado que pousaram em uma pequena árvore e enfiaram seus bicos em algumas frutas para beber a goladas até que a fruta murchasse. Viu também a um outro animal redondo com pernas enormes que pulava como um sapo, mas que a cada pulo seu corpo se mexia como gelatina e fazia um barulho engraçado. Não se aproximou de nenhum por precaução. Andou enquanto o céu foi clareando e um sol apareceu para iluminar o caminho. Chegando a beira de um penhasco gigantesco e sem fim do qual sopravam ventos congelante e andando em sua beirada, encontrou uma espécie de ponte, feitas com árvores plantadas do lado que estava e do outro lado do precipício e seus galhos dourados como ouro, trançados uns aos outros, se encontravam ao meio do precipício, não sabia se naturalmente ou feito por alguma criatura. Seus galhos faziam o chão e a murada da ponte, em um lugar ou outro com folhas translúcidas que se pareciam com cristais e no meio das folhas, as nervuras douradas cintilavam tão finas quanto fios de cabelos. Quando colocou as mão para testar a segurança da ponte uma voz feminina falou.:
-Quem recebo em meu tronco?
Assustou-se com a potência da voz e com o idioma que mesmo não se lembrando de ter ouvido sabia entender e falar.
-Eu não sei quem sou e onde estou. Caminho por esta floresta há algum tempo desde que acordei em meio à uma clareira, apenas com minha roupa do corpo e algum alimento. Peço desculpas por lhe tocar sem sua permissão.
A ponte mexeu-se e dela saiu uma linda criatura com o corpo longilíneo, todo do mesmo material da árvore, suas orelhas pontudas, os cabelos eram dourados e tão longos que se perdiam do olhar, as folhas iguais as do tronco da árvore da ponte faziam suas vestes delicadas e tão leves que quando o vento batia , flutuavam. Seus olhos tão verdes e brilhantes.
Veio graciosamente caminhando em sua direção e parou.
-Desculpe pela rudeza, durmo há tantos séculos que entrei em um transe, me assustei quando me tocou. Pensei que fosse um têntri** tentando chegar ao meu povoado para destruir o que sobrou dele. Sou Ciana, maga e protetora do portal do povo Criaturs.*** Seja bem vinda Esquecida, estávamos esperando por você há dez mil anos.
*Axolotl: O axolotl, também conhecido como axolote, é uma espécie de salamandra que não se desenvolve na fase de larva, permanecendo nesse estado mesmo adultos.
*Têntri: ser essencialmente mau que se alimenta de criaturs** e destrói tudo que toca, transformando beleza em lodo sujo, sem vida e venenoso. Tem a aparência de uma sombra, não tem face e se arrastam velozmente pela floresta. Saem apenas na escuridão pois as árvores e plantas soltam durante o dia, pequenas gotículas das águas do rio Salutares que são mortais a eles.
***Criaturs: seres mágicos que criam, e fazem nascer todo tipo de vida existente, que fazem o rio principal subterrâneo chamado Salutares fluir por todo o planeta Kalimares.
CAPÍTULO 3
- Dez mil anos? Esquecida? Não entendo. Não sei o que está acontecendo.
Neste instante ouviu-se um berro aterrorizante e vários animais voadores saíram fazendo alarde ao longe. Ela arregalou os olhos e se voltou para a Ciana para perguntar o que era aquilo. Não houve tempo. Ciana a agarrou com um galho dourado e a puxou rapidamente para a parte do meio da ponte. Voltando a entrada recitou algumas palavras:
-Incognis entrai! - e a passagem se iluminou com uma fonte de energia esverdeada e dourada como uma água transparente e oscilante.
Logo em seguida uma espécie de criatura com olhos brancos, dentes enormes e pelos cinzas enlameados apareceu rugindo e gritando do lado de fora da ponte, correndo velozmente, buscando e farejando algo em torno da entrada. Ciana se voltou para a Esquecida e explicou:
- São servos do povo Têntri, vieram por você, mas não se preocupe, não vão nos ver e nem nos sentir. Vamos, preciso leva-la ao guardião rei. Lá, depois de cuidada e atendida por um médico, irá saber de tudo que quer e precisa saber.
Foram rapidamente pela ponte, enquanto a Esquecida ouvia ao longe os gritos e rugidos dos animais desesperados em seguir seu rastro, quanto mais longe ficavam deles, mais gritavam enfurecidos .
Chegando ao final da ponte, apareceram outros seres parecidos com Ciana mas diferentes nas cores, cada um com sua particularidade. Vestidos com armaduras douradas, espadas e lanças de cristais. Quando a viram falaram quase ao mesmo tempo se inclinando pra frente numa reverência.
-A Esquecida! - Eles reagiam das mais diferentes e espantadas formas.
Ela olhou para todos e ficou muito impressionada em como eles pareciam conhecê-la mesmo sem nunca tê-la visto. Por trás de uma cortina de flores que descia de uma montanha de granito havia uma porta enorme que media mais ou menos uns quatro metros, elegantemente ornada e esculpida assim como a ponte. Quando se abriram viu uma cidade completa com casas, prédios, castelos e fontes de água num azul celeste que brilhavam como cristal, todas as casas pareciam ser feitas por vontade das próprias árvores e seus telhados eram as suas copas coloridas, as janelas com o mesmo vidro cristalino e iridescente. Todos com suas roupas lindas a olhavam, crianças, adultos, idosos, mães com seus bebês nos braços, saíram para os ver passar pronunciando a mesma palavra: A Esquecida
Enquanto subiam uma rua por entre as casas, surgiu na direção contrária uma espécie de cavalo com asas e garras de águia nas patas dianteiras, branco e brilhante como cetim. Ela não sabia se espantava-se com a cena ou admirava sua beleza. Os pelos que se moviam graciosamente ficavam furta-cor. O cavalo parou a frente de todos, abaixou-se e falou com uma voz grave:
-Bem-vinda, Esquecida! O Rei está a sua espera! Suba em minhas costas, por favor. Prometo levá-la em segurança até o castelo! Meu nome é Zoltark e serei seu ajudante pessoal.
A esquecida ficou encantada com a beleza do ser alado, sentiu medo e se assustou ao vê-lo pousar bem em frente a ela e seus novos amigos mas o encantamento sobrepujou esses sentimentos.
Virou-se para Ciana e disse :
-Estou vivendo em um sonho ou algo assim? Vocês são desconhecidos em minha mente mas sei suas línguas e meu instinto me diz que não devo temer nada que vem de vocês. Eu apenas gostaria de saber mais sobre tudo que está acontecendo. Vejo que existem famílias aqui, crianças, idosos e sinto que todos sabem quem eu sou mas não tenho um nome, que deve existir mas do qual não me lembro, por algum motivo. Não entendo o que está acontecendo. Na verdade estou muito cansada.
-Iremos responder a todas as questões que pudermos mas precisamos chegar a fonte de poder de nosso planeta, lá teremos as respostas. Disse Ciana
Olhou Zoltark , que se reclinou e disse para que ela subisse em suas costas. Subiu delicadamente, com medo de machucá-lo, se arrumou, segurou e neste instante ele deu um impulso e voou. Estava boquiaberta com tudo que via lá em baixo. A cidade mais encantadora que havia posto os olhos. Aos poucos começou a ver muros gigantescos mágicos cintilando em volta da cidade e de algumas partes de florestas, muitos vales negros onde não haviam árvores e uma montanha ao longe de pedra negra com fogo e lava saindo do topo.
Zoltark falou que a montanha de lava era onde o Rei Borag criava o povo Têntri.
Achou impossível existir vida em meio à lava, mas Zoltark assegurou que o povo têntri não tinha vida. Eram apenas maldade pura.
Plainando com suas gigantes asas chegaram perto de pequenos seres voadores, cada um de uma cor e com asas que vieram voando em volta deles acenando sorridentes viu que eram pessoas iguais a ela, só que do tamanho de sua mão. Uma delas, vestida de branco falou:
-Bem vinda, esquecida, sou Alanda, a rainha do povo Pirim. Bem vinda a guarda real, prepare-se para adentrar um portal, pode ser que sinta um pouco de tontura. Segure bem em Zoltark. - Gesticulou com a mão para frente e dela saiu um raio.
Nisto, fez-se um buraco no céu e quando passaram por ele saindo do outro lado, sentiu-se realmente tonta. Apertou as mãos fortemente na corda que havia para se segurar e com os joelhos nos ombros de Zoltark. Em menos de alguns segundos já estava se sentindo normal e suspirou profundamente.
Olhando novamente a frente visualizou um local com gramas e árvores floridas que balançavam com o vento, um enorme palácio, rodeado por nuvens e pequenas estruturas arredondadas nos galhos dessas árvores e cada árvore acima da outra em uma parte diferente da terra subindo até o castelo e algumas dessas árvores também saíam das paredes das torres do castelo, como se formassem um só e estivessem felizes com isso.
Zoltark aterrissou em uma varanda no topo do castelo, abaixou-se para que descesse e logo virou-se para uma porta de onde saíram pessoas como ela mas vestidos de forma diferente. Ao meio deles um homem com uma roupa parecida com armadura mas ao mesmo tempo maleável. Olhou para ela , por seus cabelos, rosto e focaram em seus olhos e disse:
-Olá, Esquecida. Sou o rei Kaeidh filho eleito do povo ancestral. Estes - disse apontando a cada um que o acompanhava - são Leigh, minha irmã e Sorag meu sobrinho. Venha, entre e vamos nos conhecer e tentar descobrir tudo que queremos a seu respeito.
Ela se abaixou automaticamente e disse:
-Alteza.
Ele a olhou novamente, caminhou em sua direção, segurou sua mão a levantou e disse:
- Não há necessidade disso. Sou rei mas sou eleito pelo povo e todas as minhas ações são votadas e apoiadas pelo bem de todos, somos educados sem soberba, orgulho ou vaidade. Todos somos iguais aqui, tudo é dividido justamente e todos trabalham por todos. - Sorriu para ela. Sentiu-se um pouco trêmula com o toque e o sorriso. Olhando em seus olhos dourados pensou que já o conhecia. Entraram no castelo e todos os seguiram.
Foram por um grande aposento com pequenos galhos floridos de árvores que passavam pelas paredes entrando e saindo e formando nichos maravilhosos com as mesmas pequenas estruturas arredondadas que via agora serem casas do povo Pirim. Alguns deles voavam em volta dela e a cumprimentava, dando boas vindas.
Passaram por um corredor e entraram em um outro local que viu ser um quarto com uma cama ao meio, uma mesa, com o que achou ser alimento pois estavam em pratos e tigelas. Havia uma pequena cascata de água que caia em uma piscina natural no canto esquerdo do aposento e sua água borbulhava alegremente. Logo ao lado uma espécie de local fechado com porta. O rei Kaeidh disse :
-Este aposento é seu e pode se alimentar, se cuidar e descansar. Minha irmã a ajudará e só precisa dizer seu nome para chamá-la . Quando quiser e estiver descansada, estaremos aqui para conversarmos.
-Obrigada - agradeceu a ambos.- Obrigada, Zoltark pela carona. - disse se voltando para ele.
-Por nada, Esquecida. - Respondeu Zoltark
Saíram todos e fecharam as portas.
Resolveu que precisava comer.
Sentou e se alimentou com frutas, legumes e um caldo fumegante e muito saboroso que restaurou sua energia. Bebeu um líquido vermelho e refrescante . Em seguida usou o banheiro, despiu-se e entrou na pequena cachoeira aquecida, imaginou que poderia estar mais quente e percebeu que ela se aquecia como se tivesse mexido em algum botão.
- Que estranho! - Falou consigo mesma.
Ficou por algum tempo deitada, apreciando a água trepida na pele. Ao lado viu que havia uma barra arredondada e pegou, era um sabão que usou para se lavar. Quando decidiu sair percebeu que não tinha outras roupas, olhando pelo aposento viu algumas peças de roupas na cama. Levantou, se enxugou e foi se vestir. As roupas eram de um tecido macio e bem aconchegante. Deitou e para sua surpresa teve muito sono e rapidamente dormiu.
Esquecida sentiu uma carícia suave no rosto, se assustou e ao mesmo tempo suas mãos aqueceram, o que a fez acordar subitamente . Havia um pequeno animalzinho pulando de sua cama e correndo esconder-se atrás de uma poltrona, foi quando percebeu o cheiro de queimado e fumaça subindo. Pulando da cama e tentando apagar o fogo, percebeu que suas mãos é que o causaram e que ela estava toda iluminada, suas veias estavam brilhantes como rios de lava em sua pele. Correu pelo quarto pulando na água da banheira e seu corpo foi esfriando enquanto a água fervia e evaporava.
-Mas o que está acontecendo comigo? O que eu sou? - disse voltando ao normal aos poucos.
O animalzinho que a havia assustado, deu um leve gemido e a olhou como se pedisse desculpas.
-Ok, pequenino, não se preocupe, apenas me assustei com tudo isso. Não tenha medo, venha! - O chamou com a mão, que já estava normal. - Quem é você hein? - Perguntou enquanto o pequeno peludo vinha andando em duas patas na sua direção. Enquanto o acariciava pensou que deveria chamar alguém e lembrou que bastava dizer Leigh.
-Leigh, por favor, preciso de ajuda.
No mesmo instante a linda princesa se materializou em seu quarto e a olhou surpresa.
- Quando Kaeidh disse que bastava pensar em você e você apareceria, não pensei que seria assim.
-Cada povo tem uma ou mais habilidades, acho que uma hora você vai se acostumar. Mas o quê aconteceu com você Esquecida? - Disse Leigh, estendendo a mão para ajudá-la a sair da banheira.
-Eu também não faço ideia do que aconteceu comigo. Simplesmente senti esse pequenino me acariciar no rosto e quando me assustei senti que pegou fogo na cama, em meu corpo todo, mas principalmente em minhas mãos. Corri pra água porque pensei que se eu estava pegando fogo, precisava apagar. Agora além de não saber quem eu sou, não sei o quê sou!-Disse.
-Espere, venha, vou lhe ajudar a se trocar e vamos falar com Kaeidh. Vamos explicar tudo que pudermos ou soubermos. - Disse Leigh caminhando, pegando uma toalha e a ajudando a se secar.
-Obrigada, realmente preciso de respostas, desde que acordei estou seguindo todos sem saber nada do que ocorre neste planeta, ou não sei o quê. Ao mesmo tempo sei que o correto é ser ajudada por vocês do mesmo jeito que sei que as criaturas que saíram da floresta não eram coisas boas. Sinto isso em meu ser. - Disse a Esquecida, olhando a marca escurecida de queimado que fazia o formato de seu corpo nos lençóis.
-Isso porque você realmente sabe. - Respondeu Leigh - É do nosso povo. Se qualquer ser mentir pra nós, nós saberemos. Agora o que não é do nosso povo é pegar fogo. Isso eu nunca vi. Me conte melhor como foi?
-Sim, estava assustada com esse pequeno serzinho aqui, - disse afagando o animalzinho - e senti cheiro de fumaça, de algo pegando fogo, olhei e era meu corpo todo, minhas mãos incendiando os lençóis, minhas veias pareciam lava em minha pele e eu estava brilhando. A única coisa que consegui pensar foi em pular na água.
Leigh a olhou atentamente com uma sobrancelha levantada e falou:
-Pelo que vejo parece que você não é puramente da nossa raça. Mas vamos até meu irmão. Conseguiremos pensar melhor sobre isso tudo.
Trocou-se colocando uma roupa branca, azul e dourada com uma calça parecida com a da princesa Leigh, o tecido parecia como se fosse couro, mas muito mais macio e confortável, ela moldava seu corpo até a cintura, combinando com a blusa azul ajustada e uma túnica justa até o quadril. Leigh arrumou seus cabelos numa trança transversal e finalizou com um prendedor dourado. Olhando-se pela primeira vez, desde que acordou na floresta, viu uma mulher alta, morena, forte, de olhos verdes amendoados, lábios grossos, e cabelos longos e negros. Ao seu lado a princesa sorriu e falou: - Vamos! Kaeidh nos espera e estou ansiosa por nossa conversa também.
Saíram do quarto acompanhadas pelo pequenino que saltitava em volta das pernas das duas alegremente.
- Este é um filodi, eles nos adotam como amigos. Pode acreditar quando digo que eles dariam a vida por nós. Você tem que nomeá-lo. São mágicos, como tudo neste nosso planeta, sempre que nascem, voam e escolhem alguém pra amar. Pelo jeito você foi a escolhida.
A Esquecida olhou aquele pequeno e feliz ser e sorriu. Era muito lindo, gordinho e seus pêlos eram intercalados com escamas azuis que pareciam peroladas, tinha quatro patas semelhantes a mãos mas andava em pé saltitando, seus olhos grandes lilases e redondos, orelhinhas caídas, focinho rosa, bochechinhas redondas com pelinhos da mesma cor das escamas e com uma calda larga que obviamente o ajudava no equilíbrio e nos saltos.
-Ah, então eu o chamarei de Moony. - logo que falou o pequeno filodi pulou mais e mais até que desapareceu e logo estava em seu colo, a abraçando ternamente pelo pescoço.- ela riu e a princesa Leigh falou:
-Como eu disse, são mágicos e ele está lhe agradecendo o amor retribuído. Terá sua lealdade por toda vida.
A Esquecida sorriu e deu um afago em Moony.
Continuaram andando pelo longo corredor e chegando a uma sala enorme com cadeiras em toda sua volta e com várias pessoas de diferentes características e idades sentadas nelas. Todos conversavam animadamente e silenciaram aos poucos a olhando. Pararam no meio e Leigh sussurrou :
- São todos do Conselho, cada um de um povo e povoado diferente do nosso planeta. Todos estão empolgados com sua chegada. Todos tem as vozes dos antepassados e podem falar suas versões da profecia.
- Esquecida, seja bem vinda ao Conselho da Vida. Sentem-se aqui ao meu lado e vamos ouvir a todos para descobrimos tudo que pudermos sobre a profecia. Peço desculpas por não ter nada pronto. Até dois dias atrás achávamos que você era uma lenda. Vivemos sem imaginar que um dia você estaria aqui de verdade. - disse Kaeidh se abaixando e a olhando nos olhos.
Leigh pegou em seu braço e foram as duas sentar nas cadeiras indicadas.
- Olá, Esquecida, sou Travalt do povo do norte - disse um homem alto e grisalho. - Meus antepassados gostariam de falar agora, posso?
Kaeidh a olhou e fez que sim com a cabeça. Ela fez que sim também e o olhou atenta.
De um colar que carregava no pescoço, surgiu uma luz, que flutuou iluminando a sala e bem ao meio no grande espaço vazio, surgiram imagens de pessoas nelas.
-Há dez mil anos, nasceram de novo dez discípulos da Vida, que escolheram nascer pela água ao mesmo tempo, e selaram suas vidas em prol dos povos - na imagem dez pessoas apareciam vestidos roupas curtas e cores diferentes, entravam em um lago cristalino e brilhante , imediatamente suas pernas, pés e braços, criavam escamas e barbatanas ,em seu torso próximo a sua costela abriram-se guelras e eles mergulhavam no lago, indo até o fundo e lá uma energia como se fosse uma árvore brilhante que se movimentava em uma mistura de luzes de um azul claro, branco e azul escuro. Eles tocaram nela e a luz estava em seus corpos, saindo pela boca, mãos, cabelos e olhos. Eles ficaram estáticos suspensos na água. - Eles receberam a dádiva de cuidar e proteger seus povos. Mas receberam mais do que isso, quando retornaram falaram que precisavam documentar o que diriam a seguir. Todos ficaram preocupados pois eles demoraram dois dias para emergir e isso nunca aconteceu em todas as eras. Infelizmente somente os escolhidos podem emergir no lago da Vida. Vieram escribas de todos os povos, e se abriram portais para que chegassem mais rápido dado a urgência do ocorrido. Sentaram-se nesta sala e escreveram por dias e dias. Milhares de pergaminhos documentados. Esses pergaminhos foram lidos e guardados e ficaram tanto tempo guardados que estamos há dois dias procurando.- e nas imagens foram aparecendo tudo o que Travalt descreveu.
Depois mais pessoas foram se apresentando, inclusive os representantes dos povos de Pirim, Alanda e o povo de Zoltark, os Century. Mais imagens foram aparecendo, com mais histórias contadas, em alguns desenhos feitos por um dos escolhidos, lá estava ela. Com os mesmos olhos verdes, cor da pele, mesmo cabelo.
E em um deles ela brilhava e estava suspensa no ar com uma espada de luz.
Kaeidh explicou que eles sofriam metamorfoses conforme o ambiente que estavam, se na água, eles criavam guelras e barbatanas e se precisavam voar, o corpo criava uma espécie de asa, sendo assim um povo que se adaptava a praticamente tudo.
Ao final das apresentações que duraram mais ou menos quatro horas, foram todos se despedindo para descansarem em seus aposentos, se alimentarem para que pudessem concluir a investigação dos fatos . Todos iriam trabalhar em cima dos papiros e das jóias do passado de cada povoado no dia seguinte. Precisavam saber qual seria o próximo passo e qual era a missão da Esquecida.
-Esquecida, podemos dar um passeio pelo entorno do castelo? Preciso que me conte sobre tudo que vc sabe desde que acordou. - disse Kaeidh
-Sim, vamos. Também quero saber mais.- Disse a Esquecida
Saíram do Palácio por uma enorme porta, desceram por um gramado com flores e árvores em volta em direção à uma fonte de água cristalina e sentaram-se nela. As águas se mexeram e tilintaram, como se soubesse que eles estavam ali. A Esquecida olhou um pouco espantada e Kaeidh sorriu.
-É a fonte da vida, ela está apenas nos dizendo oi. Ela é viva, não somente uma fonte de na qual possamos saciar a sede. Ela é realmente vida. Você se acostumará
A Esquecida aproximou a mão da água e ela subiu, abraçando sua mão toda. Sentindo uma calidez e uma alegria vindo dela, a Esquecida ouviu o que a água pensava e ela começou a entender a estranha linguagem da fonte de vida. - Ela me disse bem vinda, que para ela é uma alegria que eu esteja aqui. Estou entendendo a língua dela, como se fôssemos você e eu falando.
Kaeidh ficou espantado - Isto nunca aconteceu com nenhum povo. Nunca conversamos com ela, não se não formos escolhidos dos povos e mesmo eles, nunca conversaram com as águas na superfície. Nunca como você está fazendo agora. Recebemos informações da árvore da vida mas nunca conversamos com ela. Você é mesmo especial Esquecida.
-Estou surpresa também, desde que acordei, parece que mesmo que eu não saiba disso, sei conversar em todas as linguagens de todos os povos que conheci em sua sala. Sinto vocês como se os conhecesse de outras vidas. E eu pretendo descobrir tudo que está acontecendo ou por acontecer, tudo sobre mim, sobre a água e sobre a profecia. - Contou a ele as poucas coisas que aconteceram desde que abriu os olhos na floresta.
Continua...