Conto : Zumbis Guardiões


Na tranquila aldeia de Willowbrook, de longos invernos onde as noites muito escuras, criadas pela união de vistosas copas de árvores, que fazem daquele povoado, quase uma cidade florestal, algo sinistro começou a acontecer. Os mortos, em vez de se decompor sob a terra, emergiram como sombras sutis, quase indistinguíveis dos vivos. Eles se camuflavam entre os humanos, escondendo-se sob peles pálidas e olhos vazios.

A jovem detetive Evelyn Grey, com sua mente afiada e olhar perspicaz, foi a primeira a notar. Ela observava os habitantes da aldeia com desconfiança, seguindo-os discretamente. O padeiro, Sr. Harrington, com seu avental manchado de farinha, parecia normal à primeira vista. Mas seus olhos não tinham a vivacidade esperada. Ele não comia, não bebia e nunca parecia cansado.

Evelyn compartilhou suas descobertas com o Dr. Edmund Sinck, um homem de ciência e ceticismo. Ele acenou com a cabeça, seus olhos tristes. “Os mortos sempre foram mais espertos do que os vivos”, disse ele. “Mas por quê? Por que eles se camuflam?”

A resposta veio quando a lua atingiu seu ápice. Evelyn escondeu-se atrás das árvores e viu os zumbis emergirem das sombras. Seus olhos brilharam como brasas, e suas mãos estavam manchadas de terra. Eles dançaram em círculos, cantando uma canção ancestral:

“Somos os filhos da noite, os que escaparam da morte. Queremos apenas existir.”

Evelyn sabia que estava diante de um enigma. Os mortos não eram monstros, mas sobreviventes. Eles haviam encontrado uma maneira de prolongar sua existência, de transcender a morte. Eles não eram malignos; eram apenas diferentes.

Mas a descoberta não foi secreta. Rapidamente a aldeia entrou em pânico. Os vivos se armaram com tochas e foices, prontos para exterminar os zumbis. Mas Evelyn interveio. Ela se colocou entre os dois grupos, implorando por paz.

“Não somos tão diferentes”, disse ela. “Todos nós temos medo da morte. Os zumbis só querem viver, assim como nós.”

O Dr. Sinclair assentiu. “Talvez seja hora de aceitar nossos irmãos da noite. Eles não são nossos inimigos, mas nossos iguais.”

Por um momento, houve um alívio. Afinal, por mais que não parecessem as mesmas pessoas, ainda eram amigos, parentes. 

Evelyn Grey mergulhou mais fundo no mistério dos zumbis camuflados. Ela estudou os antigos pergaminhos da biblioteca da aldeia, manuscritos dos antepassados, buscando pistas sobre sua origem. As palavras eram enigmáticas, cheias de símbolos e profecias. Uma delas ecoava em sua mente:

“A noite é nossa mãe, a morte nossa irmã. Somos os filhos da escuridão, os que escaparam do túmulo.”

Evelyn também notou que os zumbis evitavam espelhos. Quando se olhavam, viam apenas vultos indistintos, como se suas almas estivessem desvanecendo. Ela começou a suspeitar que havia um pacto antigo entre os mortos e a noite.

O Dr. Sink, sempre cético, a alertou. “Cuidado, Evelyn. Alguns segredos devem permanecer enterrados.”

Mas Evelyn não podia parar. Ela seguiu os zumbis até o coração da floresta, onde uma clareira escondida aguardava. Lá, à meia-noite, os mortos se reuniam. Suas vozes eram como uivos ao vento, suas mãos se entrelaçavam em gestos ancestrais.

“Somos os filhos da noite”, cantavam eles. “Os que escaparam da morte. Em troca, servimos à escuridão.”

Evelyn percebeu que os zumbis não eram apenas sobreviventes, mas guardiões. Eles protegiam algo, algo que os vivos não podiam compreender. Ela decidiu fazer um pacto próprio: descobrir a verdade, não importasse o custo.

Na próxima lua cheia, ela se juntou aos zumbis na clareira. Eles a receberam com olhos brilhantes e mãos estendidas. “Você também é uma filha da noite”, disseram eles. “Aceite nosso presente.”

Evelyn sentiu algo se mover dentro dela. Uma conexão com a natureza, uma promessa selada em sangue. Ela agora era parte da irmandade dos silenciosos, dos que escaparam da morte.

Mas a que preço? O que eles protegiam na escuridão? Evelyn estava prestes a descobrir, enquanto a aldeia dormia e os zumbis dançavam sob a lua.

Evelyn Grey, agora parte da irmandade dos silenciosos, continuou sua busca por respostas. Ela descobriu que os zumbis protegiam um portal, uma passagem entre os mundos dos vivos e dos mortos. A cada lua cheia, eles renovavam o pacto, mantendo o equilíbrio entre as duas esferas.

Evelyn escolheu permanecer na aldeia, guardiã do segredo. Ela aprendeu a dançar com os zumbis sob a lua, a cantar sua canção. Às vezes, ela sentia a presença de outros seres, espectros famintos que espreitavam nas sombras. Ela sabia que a escuridão não era apenas o refúgio dos mortos, mas também o lar de criaturas mais antigas e perigosas.

Mas quando os zumbis trouxeram Evelyn para junto deles, sem que ela tivesse morrido, uma criatura, a mais perigosa, encontrou uma brecha para fugir: um vírus que não causa nada aos vivos, mas que torna insanos os mortos.

À essa altura, Evelyn só podia pensar nos conselhos do Dr. Sinck, que acompanhou discretamente toda a saga da investigadora e foi ele quem ajudou os zumbis a decidirem que se não quisessem eles destruídos ou presos, deveria ser Evelyn, a escolhida por eles, a ser aprisionada para sempre, viva ou morta.

Erick Lobo