"Dormir? Ou Ficar"
CONTO DE ALBERTO BUSQUETS
Queria dormir. Não consegui.
Tive uma noite leve: boas conversas, algumas risadas, muito carinho trocado. Tomei o remédio, passei por um banho quentinho na medida certa. Deitei na cama macia, com ventilador nos meus pés. Afofei os travesseiros, abracei um deles. A temperatura estava agradável, o escuro estava acolhedor.
Até o gato pulou na cama, e se aninhou nas minhas pernas. Tudo perfeito. Menos o sono...
De olhos fechados, respirei fundo. Relaxei o corpo, deixei meus pulmões encontrarem o ritmo mais confortável.
Imaginei cores, sons, imagens, cenas. Um campo de relva verde sob um céu azul. Uma cachoeira abaixo do sol, tornando os respingos e gotículas que a brisa levava um esplêndido arco-íris. Borboletas, passarinhos, insetos zunindo.
Sentei na relva macia. Com a mão direita, toquei as folhas.
Tudo perfeito. Menos o sono.
Comecei a me desapontar. Logo eu, que durmo tão fácil? Logo hoje, um dia bom mas cansativo?
Encontrei-me fitando o teto do quarto. As nesgas de luz que a iluminação da rua jogava para dentro quebravam a penumbra.
Fechei novamente os olhos, em outra tentativa. Relaxei, e imaginei estar caminhando pelas ruas desertas de uma cidade.
Um céu nublado, um clima mais fresco. Poucas pessoas à vista. Mas a calçada era ampla e plana: perfeita para perder-se caminhando a esmo, olhando as casas e lojas que vão passando.
Mas o sono... Nada.
Abri os olhos retornei ao quarto. Agora visivelmente irritado. Queria descansar!
O gato havia saído das minhas pernas. Deve ter sentido meu humor.
Ouço meu despertador. Estranho... ainda está escuro! Ele só deveria tocar às seis da manhã!
Mas eram seis da manhã.
Abri os olhos, minhas mãos automaticamente alcançaram meu telefone e desligaram o alarme. Deparei-me com o quarto claro, o gato sentado no chão me encarando, aguardando o café da manhã.
Foi o meta-sonho mais vívido que já tive.