E-REVISTA

SERIA UMA SEREIA

CILENE RESENDE

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Formada em Direito pela Universidade Estadual de Maringá, advogada e empresária, leitora desde sempre e apaixonada por todo tipo de literatura. Na poesia procuro a simplicidade de Manoel de Barros e a complexidade da mulher de Clarice Lispector. Escrevo para que sintam, para que se inspirem, para que visualizem e para que desejem. 

SERIA UMA SEREIA

Não sou melhor do que ninguém
Mas por você, eu seria uma seria
Seria a lenda que saiu do mar para conhecer um amante
mortal
Sentiria as marés do sol correrem minhas veias
Seria o lamento da pescadora que vira os barcos varridos
pelo mar
Sentiria o coração romper com o naufrágio e o desastre
desse amor
Descobriria que as lágrimas vertidas pelas mulheres não
deixam marcas no mundo

AUSÊNCIA

Passada a areia,
Os corais arranham
O céu é mesquinho
A água é gelada
O olhar é frio
Nunca finda a madrugada
O mar está vazio
Nada sei na tua ausência
Tudo é véspera da sua pele.

AUTO-RETRATO

Você me acontece
Como me acontecem seus olhos de tempestade em alto mar
Você me anoitece
Como me invadem os sonhos revirando todos os ventos
Você me enlouquece
Como me desconhecem os desejos de hoje sobre as feridas de ontem
Você me aborrece
Como me navegam os cortes que sagram em veias abertas para continentes desconhecidos
Você me apetece
Como me ardem nos lábios o seu beijo ausente
Você me desconhece
Como me refletem as imagens no espelho com os fragmentos que não deixaram de tentar existir
Você me padece
Como me entardecem as curas e resisto feito enigma e mistério
Você me esquece
Como me compõem as frases deixadas na areia esperando que você me leia
Você me entristece
Como me silenciam os batimentos cardíacos diante dos seus sorrisos fáceis para outras vidas
Você me amanhece
Como me ilumina o crepúsculo no milagre da cor do fim da luz, como pergunta e confusão, como a definição de que não sou para depois.

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PACTO

Escrevo porque meus sentimentos fizeram um pacto com
a caneta e o papel:
Só saem da minha boca em forma de beijo

Prometa que vai me beijar como quem extrai as letras uma
por uma
Sabendo o tempo todo que esse momento não durará
para sempre
E isso nos fará sangrar

Prometo que a minha boca lhe dará todas as palavras que
meus sentimentos conhecem
Porque uma vez é melhor do que nunca
E não sentir dor não é melhor do que o prazer

Prometo que vou te fazer gozar e te fazer chorar

Prometo que vou beijar seu corpo de forma que, se isso
não for eterno pra você, será eterno num livro na sua
estante.

POUCAS NUVENS

Invejo a onda que dança no teu corpo
Que é tocada pelos seus dedos
Que é música sem nenhum esforço
Invejo o sol que toca a sua pele
Que faz estrelas diurnas no mar
Que te aquece
Invejo também a tempestade que bate no teu peito
Que protesta violenta
Que reage quando não tem satisfeita a sua vontade
Porque sou brisa leve
Que nada muda no tempo
Que perde o sentido do vento
Quando passa pelo seu olhar

Ainda não sei chover.


Assisto labaredas desenhando curvas no ar

Línguas de fogo sussurram-me os segredos das fagulhas que dançam sobre paixões reacesas

A pele incendiária exibe o ardor das marcas rubras forjadas pelos seus dedos

Rogo para que tudo que há de combustível pegue fogo e que tudo o que for líquido escorra.


Às vezes, resta somente o sobe e desce das marés e o barulho do vento

Como quando recusou o que te pedi:

Não seja pra mim a onda alta que me nega aos pés o chão

O mundo em tempestade

Sento numa pedra

e canto poesias de amor

E que não cessem as noites, ainda que carreguem os sonhos e que com eles se abram as feridas que cicatrizavam ao sol

O meu amor tem tamanho de céu e forma de asas.  



A gente se acostuma a fingir que o tempo espera, mas não sabemos o que esperamos do tempo.

A gente se acostuma a perder o tempo

A gente se acostuma a fingir sorrisos

E a gente se acostuma a se acostumar


Conto de falhas


Deixastes rastros eternos em meus pensamentos

Agora este corpo morre a cada segundo longe do mar

Por cada toque daquela língua que mistura meus verbos

Por cada som daquela alma que paralisa o tempo

E a beleza dos olhos,


nem eu nem Shakespeare

saberíamos descrever sem os leitores

julgarem que os poetas mentem


As horas que queria passar

O suor que faria escorrer

Os sussurros pra cantar no ouvido

Pelo menos dez encaixes pros nossos legos

Os arrepios que os poros sentem


É sua a poesia entalada na garganta

É seu nome no canto que ecoa nas paredes da nau afundada


Ahhh meu conto de falhas !


Se o grande poder do poeta fosse simplesmente escrever

Seria possível reescrever o Sol, os planetas, todo o universo para que você fosse meu destino

Apagar tudo o que nos mantém separados para ser aquela a quem você deveria encontrar


Maré baixa


Eu poderia ser mais

Mais que o bom dia

Mais que eu te amo

Mais que uma noite

Seria a carne que te alimenta

O cheiro que te acorda

A satisfação do seu desejo

A resposta pra suas dúvidas

Seria o sol que nasce

O sol que se põe

O brilho da noite

A névoa da Lua

Seria também a ponta da faca

A preocupação da madrugada

O dedo na quina da cama

O ardor da raiva

Não basta ser o calor que te acolhe?

Não basta ser o olhar que te vela?

Não.

E que não baste jamais.  



Vermelho


Gosto do jeito que você me faz ruborizar

Que leva os meus dentes sobre o canto do lábio e sorrir

Gosto do jeito que você me morde quando estamos juntos

Mas eu quero mais

Quero arranhar a sua pele pra você sentir como arde minha fome

E quero lamber essa ferida

Quero os seus lábios nos meus e os meus pulsos presos na parede

E quero o hematoma dessa prisão

Quero a minha língua perto da sua orelha e seu arrepio na minha barriga

Eu quero a marca quente dos seus dedos dessas mãos que não só me tocam, me memorizam

Quero que me faça esquecer da falta de ar que é não saber onde você está

Quero ser a própria gravidade que te encaixe e escorra em mim pelo infinito

Eu quero brincar com fogo e quero que você se queime porque o fogo sou eu.

#🅢🅔🅧🅧🅧🅣🅞🅤  


Procurarás estrelas do mar no céu

E nunca as encontrarás porque deixou de vê-las quando elas estiveram ao alcance dos seus dedos


Desejarás o sal nos olhos e a ardência da onda invadindo seu nariz

Porque seria mais fácil esse incômodo

Do que perceber-se à deriva


Recordarás o nosso amor na palavra infinito

Ainda que afogado.

Perceberás minha presença nos seus pensamentos

E em lugares que só a poesia alcança


Chamarás pelo meu nome

Eu sou

Eu vou

Qualquer distância é uma esquina se for pra te ver sorrir pra mim


Ouça seus desejos

Não minta para o seu corpo

Ele sabe que me quer

Tanto quanto precisa de ar

Tanto quanto preciso do mar


O desejo estampado em cada traço do seu rosto

é a minha ruína

Nada mais importa desde que me beijes como se eu fosse o ar que faltasse em seus pulmões

como se sua vida dependesse disso

A minha depende

Desde que estejas em mim

Tão profundamente que ocupe todo meu interior

Eu posso perder o controle, posso tomar o controle, posso guiar o ritmo do nosso prazer

Desde que me olhes

Tão profundamente e encontre todas as respostas que você precisa

Porque o dia começa com eriçados pelinhos espreguiçando em raios de sol,

sorrio


Porque a água morna escorre minha pele imaginando seus dedos

arrepio


Porque o espelho contempla as curvas e vales em variados tons de nude

me recrio


Então o perfume que borrifa minha pele enfloresce

Então a roupa que me veste aquece

Então o resto do dia acontece


E só quero escrever você entre minhas pernas

VERSÃO 2


O desejo estampado em cada traço do seu rosto

é a minha ruína

Nada mais importa desde que me beijes como se eu fosse o ar que faltasse em seus pulmões

como se sua vida dependesse disso

A minha depende

Desde que estejas em mim

Tão profundamente que ocupe todo meu interior

Eu posso perder o controle, posso tomar o controle, posso guiar o ritmo do nosso prazer

Desde que me olhes

Tão profundamente e encontre todas as respostas que você precisa


#🅢🅔🅧🅧🅧🅣🅞🅤  

Não fui eu

Não foi a cor do meu vestido

Não foi o cumprimento da minha saia

Não foi minha maquiagem

Não foi andar sozinha na rua de noite

Não foi meu grito sufocado por sua mão imunda

Não foram minhas unhas quebrando no seu corpo

Não foram minhas pernas chutando inutilmente

Não foi meu ventre invadido, violado e destruído

Não foi seu falo indesejado e doente despejando sementes de ódio e repulsa

Não foi essa a definição de mãe em nenhum dicionário


Em defesa do aborto legal  


Não venha me dizer que não sou uma pessoa ambiciosa

Sou cheia de pequenas ambições


Como naquele dia em que pensei ser um desejo que aquela pessoa desejasse e assim percebesse que estava viva e valia a pena viver mais um dia


Ou quando eu quis ser engraçada o suficiente para aquela amiga que chorava ter algumas horas mais leves


Teve também aquele dia em pretendi ser elogios para uma pessoa incrível que achava seus méritos todos banais, sem ver que só pessoas extraordinárias conseguem produzi-los com tamanha naturalidade


Nem mesmo um inseto obcecado pela luz

é capaz de entender como suspiram os olhos quando encontram os seus


Seus cheiros, seus cabelos,

Seus músculos, sua voz

Todos conspiram aos lábios meus


Mesmo quando sua mão não toca

Ainda assim queima

Mesmo quando é uma ideia, minhas coxas na sua cintura,

Ainda assim escorro


O desejo é uma maldade gostosa na pele


Recomeço


Aprisionado é o vento que dentro do meu peito

Ecoa uma devastação

Um letreiro mental pisca cheio de filosofia:

Não existe consentimento na ausência

E há silêncios que são feito gritos na alma

Ninguém vê, ninguém ouve

No fim do dia, todos dormem

Pela manhã não morri de novo

Antes de desaparecer

Decidi existir:

A partir de hoje

Meu nome é voz  


Você me acontece

Como me acontecem seus olhos de tempestade em alto mar

Você me anoitece

Como me invadem os sonhos revirando todos os ventos

Você me enlouquece

Como me desconhecem os desejos de hoje sobre as feridas de ontem

Você me aborrece

Como me navegam os cortes que sagram em veias abertas para continentes desconhecidos

Você me apetece

Como me ardem nos lábios o seu beijo ausente

Você me desconhece

Como me refletem as imagens no espelho com os fragmentos que não deixaram de tentar existir

Você me padece

Como me entardecem as curas e resisto feito enigma e mistério

Você me esquece

Como me compõem as frases deixadas na areia esperando que você me leia

Você me entristece

Como me silenciam os batimentos cardíacos diante dos seus sorrisos fáceis para outras vidas

Você me amanhece

Como me ilumina o crepúsculo no milagre da cor do fim da luz, como pergunta e confusão, como a definição de que não sou pra depois.


É a boca salivando,

São os dentes sobre os lábios

É o coração querendo romper as costelas

São os tremores no arrepio do pescoço


São as mãos subindo

Deixando um rastro quente entre as pernas nuas

É a cor dos olhos famintos

Decidindo o que fazer primeiro


É a ardência e a marca da mão deixada na pele


Poderia então uma sereia se afogar

Não no mar

Em outra água salgada